sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Ler para crescer...

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Inspirados em uma homenagem já feita a Carlos Drummond de Andrade, esta semana acontece o Dia C, de Clarice Lispector. Aqui, por que ela deve entrar cedo no coração do leitor.


Clarice Lispector é uma das minhas paixões. Não que eu tenha lido todas as linhas escritas por ela ou conheça cada segundo de sua vida, interrompida em 1977. E sim porque cada conjunto de frases dela com o qual tenho a felicidade de me encontrar é para mim uma lista de revelações. Muitas vezes sobre mim mesma.

Adoro em especial suas crônicas. Ela tinha um poder de fazer do nosso sentimento algo claro e bom de ser colocado em palavras. Estamos todos ali em suas frases, até mesmo quando ela está falando de si mesma. Pois quando Clarice decide falar com as crianças, adivinhem, o que tem de melhor? A franqueza. E isso não quer dizer que ela está sendo dura ou politicamente correta ou incorreta. É algo direto, gostoso e deliciosamente fantasioso. A Vida Íntima de Laura, um clássico da literatura infantil que fala da vida de uma galinha e que faz parte dos 55 Melhores Livros de Todos os Tempos da CRESCER (veja a resenha aqui) já é uma maravilha. O Mistério do Coelho Pensante E Outras Histórias (veja a resenha aqui também) também é incrível e agora a Rocco acaba de colocar de novo em nova edição uma coletânea chamada Como Nasceram as Estrelas – Doze Lendas Brasileiras, em que Clarice revela para cada mês do ano um conto tradicional diferente. Tem a lenda de como nascem as estrelas dos índios, mas também a do sapo que queria ir para a festa no céu, a da fruta sem nome, o negrinho do pastoreio, curupira, etc. E é justamente por conhecermos as histórias que a escrita de Clarice nos salta aos olhos – mas a mim, ao coração acima de tudo. Ela passa tanto domínio no que diz que, quando você percebe, está lendo tudo em voz alta. Olha que presente para uma família que começa uma vida se apaixonando pelas histórias! Imagine que loucura você não conseguir segurar a vontade de ler em voz alta?

Eu acabo de me terminar um curso maravilhoso chamado A Arte de Contar Histórias e não é que pego Clarice, mais uma vez, com texto pronto para ser narrado. E também delicioso de se ler em silêncio. É um vaivém de conquista com ele, parece que ela está aqui pertinho da gente. Chego a me emocionar. Imagino que a criança pode ouvir Clarice pela doce voz dos pais e depois, ela mesma, conversar com Clarice nas histórias. Porque reler Clarice é ainda melhor que ler.

Adoro porque ela usa sutilezas lindas como, no meio de uma virada da história, usar a frase: “aconteceu uma coisa que só acontece quando a gente acredita”. Tem coisa mais deliciosa de que ler isso? Porque este é o poder da história. E ela, mais uma vez, mostra porque é professora no escrever, sabendo exatamente o que a criança quer ouvir. Conhece o leitor – aquele mesmo que ela nunca viu – como tenta se conhecer a si mesmo.

Estas histórias podem ser contadas em casa desde muito cedo, a criança vai amar. E, o melhor: quanto antes conhecer Clarice melhor. O dia C acontece no dia 10 de dezembro, aniversário da autora. Mas todo dia é dia bom para estar com ela.


Cristiane Rogerio é editora de Educação e Cultura da Crescer e adora se perder entre os livros.

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