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segunda-feira, 19 de março de 2012

Atualidade

Um tesouro no deserto chileno 

Pesquisadores do Museu Paleontológico de Caldera descobrem 70 fósseis de baleias em pleno Atacama. A descoberta está sendo registrada por meio de imagens em 3D.


 
Um tesouro no deserto chileno
Por: Mariana Rocha
Publicado em 23/02/2012 | Atualizado em 23/02/2012
 

Dentre os 20 esqueletos completos de baleias encontrados no deserto do Atacama, os pesquisadores identificaram uma recém-nascida. (foto: Rodrigo Terreros e Jorge Arévalo)
Durante a duplicação da rodovia Pan-americana, rede de estradas que atravessa o continente, 70 fósseis de baleias com até oito metros de comprimento vieram à superfície. Entre eles, pelos menos 20 esqueletos completos do mamífero marinho foram encontrados no deserto do Atacama, no Chile, considerado o mais seco do mundo. A descoberta intrigou os pesquisadores do museu paleontológico de Caldera, comuna da região, que trabalham agora na identificação do material.
Mas há uma explicação. Segundo a bióloga brasileira Carolina Gutstein, que participa do estudo, Caldera foi, há 7 milhões de anos, um fundo marinho com alta biodiversidade.
Caldera, comuna localizada na região do Atacama, foi, há 7 milhões de anos, um fundo marinho com alta biodiversidade
O achado impulsionou os cientistas a tentar descobrir o que causou a morte desses animais e a extinção do oceano na região. “Dois fatores podem justificar a presença desses fósseis: os intensos movimentos tectônicos que marcam o Chile e as grandes transgressões e regressões marítimas do período Mioceno”, afirma Gutstein.
Os frequentes terremotos que atingem o país podem ter provocado a subida de rochas sedimentárias do fundo do oceano pré-histórico, originando um cemitério de baleias. Já o Mioceno, compreendido entre cinco e 23 milhões de anos atrás, é marcado por um intenso dinamismo, com fases de aumento e diminuição do nível do mar.
O cenário do período também é caracterizado por movimentos horizontais da crosta terrestre, como os que originaram a Cordilheira dos Andes. Com tantas mudanças no ambiente, é fácil imaginar como os mares poderiam se formar ou desaparecer no curso de alguns milhares de anos.
Carolina Gutstein em pesquisa de campo
A brasileira Carolina Gutstein participa da escavação dos fósseis de baleias e estuda a relação entre os esqueletos de golfinhos encontrados no Atacama e os que habitam a costa brasileira. (foto: Rodrigo Terreros e Jorge Arévalo)
Além de buscar a história desses fósseis, os cientistas procuram uma maneira de preservá-los. Obedecendo a lei chilena que protege monumentos nacionais, a obra da rodovia foi interrompida por mais de um ano após o achado, permitindo que a escavação fosse realizada de forma adequada.
Após a visita em novembro passado da ministra de bens nacionais Catalina Parot ao local das escavações, surgiu a ideia de se criar um museu específico para o achado, já que o prédio atual em que se encontram os fósseis – localizado na estação de trem de Caldera – corre grande risco em caso de tsunami. “Projetos dessa índole têm sido apresentados às autoridades há quase 10 anos, mas sem muito sucesso”, conta a pesquisadora, que espera que o estudo sirva como um estímulo para a construção do novo prédio.
Para registrar a memória desse tesouro paleontológico, um grupo do Instituto Smithsonian está produzindo imagens digitais dos fósseis. Com a ajuda de um scanner acoplado a um braço mecânico, eles criam fotografias em 3D altamente detalhadas, que podem ser impressas para a geração de réplicas em tamanho real.
“Além de réplicas exatas, podemos obter o posicionamento de cada um dos ossos no deserto. Essa informação, junto a outros dados, permitirá entender como se formou o acúmulo dos esqueletos de baleias, além de outros animais também encontrados, como focas e golfinhos.”
Em relação aos fósseis em si, os pesquisadores já descobriram que se trata de parentes das baleias Jubarte e Minke. O próximo passo é tentar descobrir a que espécies pertencem.


quinta-feira, 1 de março de 2012

Atualidade

 
Hora de recomeçar

Cientistas brasileiros que trabalhavam na Antártica acreditam que tragédia na estação Comandante Ferraz deve servir de motivação para continuar pesquisas. 
 
 
Por: Célio Yano
Publicado em 29/02/2012 | Atualizado em 29/02/2012
Hora de recomeçar
 
Incêndio iniciado na madrugada do último sábado (25/2) destrói Estação Comandante Ferraz, na Antártica. Dois militares morreram e um ficou ferido. (foto: Armada de Chile/ www.informadorchile.com)
O incêndio que destruiu aproximadamente 70% da Estação Antártica Comandante Ferraz no último sábado (25/2) foi um duro golpe para a ciência brasileira. Além do prejuízo material, as chamas provocaram uma perda inestimável em termos de pesquisa e tiraram a vida de dois militares.
Em meio ao luto, cientistas que trabalhavam no continente acreditam que a tragédia servirá, apesar de tudo, como motivação para alavancar as pesquisas do Programa Antártico Brasileiro (Proantar) daqui para frente.
Em entrevista coletiva concedida ontem (28/2) por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que trabalhavam na Antártica, a oceanóloga Eunice Machado, do Centro de Estudos do Mar (CEM), disse que nenhuma atividade será interrompida definitivamente em razão do incêndio. “Temos que fazer um esforço para reverter essa situação e dar continuidade ao trabalho”, afirmou.
Eunice Machado: “Temos que fazer um esforço para reverter essa situação e dar continuidade ao trabalho”
A UFPR desenvolve pesquisas na Antártica desde 1982, antes mesmo da inauguração da estação Comandante Ferraz, em 1984. O reitor da instituição, Zaki Akel, garante que dentro da universidade o programa antártico vai se ampliar a partir da tragédia. “Vamos transformar a crise em oportunidade.”
A bióloga Lucélia Donatti considera que um dos maiores impactos do incêndio é na descontinuidade de projetos que dependem de séries históricas, como o que ela desenvolvia. “Temos dados de dois anos; o material coletado no terceiro ano e no período que levará para a reconstrução da base não poderá ser computado”, lamentou.
Donatti, hoje coordenadora do programa de pós-graduação em ecologia e conservação da UFPR, participa de expedições à Antártica desde 1996, quando era aluna de mestrado na instituição. Ela lidera um grupo que estuda alterações climáticas por meio da análise da biologia celular e molecular de peixes da região. “Queremos saber como as alterações de temperatura e salinidade no mar, provocadas pela presença humana, se refletem no comportamento dos peixes”, explicou.
O projeto faz parte do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Antártico de Pesquisas Ambientais (INCT-APA), cujas atividades começaram em 2009 e tinham previsão de terminar em 2014.
A presidente Dilma Rousseff determinou ontem a abertura de crédito extraordinário no Orçamento de 2012 para reconstruir a estação Comandante Ferraz. A frente parlamentar de apoio ao Proantar calcula que será necessário um investimento mínimo de R$ 20 milhões para limpar o local do acidente e começar a reconstrução, que deve levar cerca de dois anos.

Estação Comandante Ferraz em 2004
Estação Comandante Ferraz, em foto de 2004. A base, que ficava na Ilha do Rei George, Baía do Almirantando, foi inaugurada em 6 de fevereiro de 1984. (foto: Agência Brasil)

Incêndio sem tumulto

No momento do incêndio, que começou na praça de máquinas, onde ficavam os geradores de energia da estação, havia 59 pessoas na base: 30 pesquisadores, 15 militares, 12 funcionários civis da Marinha, além de um alpinista que auxiliava nas pesquisas e um representante do Ministério do Meio Ambiente.
A bióloga Cintia Machado, que faz parte do grupo de Donatti, estava na estação desde o início de janeiro passado. Ela conta que todos os pesquisadores que vão para a Antártica passam por um treinamento no qual são instruídos sobre as condutas que devem adotar em caso de incêndio. “É por isso que estamos bem”, disse.
Priscila Krebsbash: “Só deu tempo de correr até o camarote para pegar algumas roupas e documentos, e sair”
“Só deu tempo de correr até o camarote para pegar algumas roupas e documentos, e sair”, contou Priscila Krebsbash, mestranda em biologia celular e molecular. Ela disse que, quando o incêndio começou, pensava que as chamas logo seriam controladas.
O fogo teve início por volta das duas da madrugada (hora de Brasília). “Estávamos na sala de estar, quando alguém avisou”, relatou a também bióloga Nádia Sabchuk, mestranda em ecologia e conservação.
“Não houve tumulto.” Segundo a pesquisadora, a informação de que dois militares haviam morrido demorou para chegar até ela. “Quem sabia não comentava para não gerar pânico entre os demais.”
Na coletiva, as pesquisadoras da UFPR disseram que o incêndio foi uma fatalidade. As chances de ocorrer um acidente desse tipo eram grandes, por causa do estoque de combustíveis, das condições climáticas adversas (ar seco e ventos de até 150 km/h) e das substâncias inflamáveis e equipamentos eletrônicos usados nas pesquisas.

A outra estação

O Proantar não se resume à estação Comandante Ferraz. A criação do programa antecede em dois anos a construção da unidade, quando a Marinha do Brasil enviou o navio de apoio oceanográfico Barão de Teffé à Antártica. Há muitas pesquisas brasileiras realizadas em navios, em ilhas e também no interior do continente.
Há pouco mais de um mês, aliás, o Brasil inaugurou sua segunda estação de pesquisas na Antártica: o Criosfera 1, um módulo autônomo equipado com aparelhos que coletam dados meteorológicos e medem a composição química da atmosfera da região.
A estação Comandante Ferraz se localiza na Ilha do Rei George, a 3.115 km ao norte do Polo Sul geográfico; o Criosfera 1 foi instalado a apenas 500 km do ponto mais meridional da Terra.
Estações brasileiras na Antártica.
Localização das estações brasileiras na Antártica. (imagem: Sofia Moutinho)
“A nova estação é totalmente independente da Comandante Ferraz e continua funcionando plenamente”, explica o geocientista Heitor Evangelista, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), coordenador do módulo.
O Criosfera 1 funciona 24 horas por dia, coletando dados como temperatura, umidade concentração de CO2 e deposição de gelo em tempo real, sem a necessidade da presença de humanos.
Heitor Evangelista: “A nova estação é totalmente independente da Comandante Ferraz e continua funcionando plenamente”
As informações são enviadas, por satélite, ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), no Brasil. Anualmente, entre janeiro e fevereiro, um grupo de pessoas irá até a estação para realizar serviços de manutenção.
Idealizador do Criosfera 1, Evangelista considera que as chances de ocorrer um incêndio no novo módulo são menores do que as que havia na Comandante Ferraz, embora não descarte essa possibilidade.
“Como o laboratório tem vários equipamentos eletrônicos, o risco sempre vai existir.” Por ser equipada com geradores de energia solar e eólica, a unidade dispensa o uso de combustíveis fósseis para funcionar.
Estação Crisofera 1
Estação Crisofera 1, inaugurada em janeiro deste ano. A segunda base de pesquisas brasileira é a primeira a funcionar ininterruptamente e de maneira autossustentável no interior da Antártica, onde a temperatura média no inverno é de -45ºC. 
(foto: Heitor Evangelista)
 
FONTE  http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2012/02/hora-de-recomecar/?searchterm=Hora%20de%20recome%C3%A7ar