sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Espaço do Professor(a)


 

Profª Cristiane Carminate


vista parcial em Ouro Preto




 

               
  O LIVRO ABERTO

CRISTIANE CARMINATE P. GRIMALDE GADIOLI

Não é só por ser professora de Língua Portuguesa que venho a cada dia sofrendo ao corrigir redações, ao ler respostas de provas, ao questionar meus alunos. Tenho sentido falta da família, alicerce de qualquer educação. Esta tão importante malha social vem sendo extirpada a olhos nus. Os alunos de hoje e a violência declarada nas escolas são muitas vezes fruto da mirabolante queda desta instituição.
Família existe? Ainda? Lembrei-me de um caso absurdo em que “crianças e adolescentes” quebraram lojas de centros de compras, depredaram uma Delegacia e agrediram profissionais do Conselho Tutelar. Todos os órgãos de proteção à criança e ao adolescente pregam veementemente que a família biológica deve ser mantida, que o infrator deve ser devolvido ao seio familiar assim que se “recuperar”, na proporção em que cumprir a insólita máxima pena de três anos. Sempre a família! Devolver para pai ou mãe. Em casos de adoção então, a biologia fala mais forte que a razão, que o sentimento. Verdadeiros pais, aqueles do coração, precisam entrar em filas homéricas para adotar uma criança porque a nossa legislação visa à inclusão na bendita família natural em primeiro plano. Depois é que vem a substituta.
Muito bom! Vamos valorizar a família! Que família? Onde está a estrutura? Onde está o respeito e o exemplo a ser seguido? O mais engraçado é que na entrevista dos tais menores que destruíram os locais mencionados, uma mãe gritava desesperada. Assustei-me e compartilhei da dor e sofrimento daquela mulher ao ter sua filha apreendida por um ato tão vil de vandalismo. Qual não foi minha surpresa ao saber que a melindrosa “mãe” gritava de raiva porque a filha roubara, mas fora burra de ter sido presa. Era uma idiota porque deixou que a polícia lhe “catasse”. Meu Deus!!! Isso é mãe? Esta criança deve voltar para este indivíduo que não possui o menor senso de caráter? E aquelas “mães” que jogam seus filhos em lixeiras, na lagoa da Pampulha/MG, em privadas e dão descarga para que o bebê se esvaia com a água como se ele fosse um dejeto ou uma impureza? É para esta “família” que devolvemos nossas crianças?
Os próprios pais reclamam quando a escola requer uniforme de seus alunos, quando os genitores são chamados em alguma reunião escolar eles não comparecem, quando o boletim adentra sorrateiramente à residência é que eles vão saber se seu filho foi ou não aprovado, se vai se recuperar! Não estou generalizando, mas quem for professor e nunca passou por isso é que atire a primeira pedra!
É um desafio trazer a família para a educação, conciliar todo o processo, lutar contra o sistema. Como questionar uma criança ou adolescente que começa a beber em bailes desde cedo se os próprios pais permitem que seus filhos fiquem soltos na rua pela madrugada? Como culpar uma criança ou adolescente que “burla” o sistema e finge ser maior de idade para entrar em boates se seus responsáveis também são irresponsáveis aos deixá-los ao léu, ou também enganam uns aos outros? A equação é: eu finjo que vigio, finjo que não vejo, finjo que me importo. Balela! Onde está a família? Em que momento deste mundo contemporâneo globalizado ela se perdeu? Quando nossas crianças deixaram de se expressar através do toque, do carinho, da fala, do respeito, para apenas se comunicarem através de “torpedos”, “msns” e outros simulacros de comunicação? Onde nos perdemos? Onde os perdemos?
E mais essa agora. A USP, fonte inesgotável de saber, baluarte da cultura brasileira, berço da educação, símbolo daqueles estudantes mais intensos virou lugar de baderna, depredação, vandalismo, “protestos”. Com o perdão da palavra, mas aqueles alunos acreditam mesmo que estão lutando contra o sistema? Daquele jeito e por aquele motivo banal? Têm certeza disso? E assim, uma das maiores entidades do país, universidade sonhada por poucos está sendo maculada graças a uma bela demonstração de falta de educação e consideração com os demais estudantes que nada têm a ver com este novo conceito de “revolução”. Família volte! Volte para o seio de seus amados... eles esperam ver de novo um exemplo de prática social bem sucedida, baseada no amor, na compreensão, no limite e principalmente na esperança!

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