quarta-feira, 28 de abril de 2010

Espaço do Professor (a)



“Sawa Bona. Sikhona”.
Eu te vejo. Estou aqui.

CRISTIANE CARMINATE P. GRIMALDE GADIOLI

Quase todo mundo já ouviu falar do filme AVATAR de James Cameron. O que muita gente não sabe ou não prestou atenção foi na simples expressão “Eu vejo você” pronunciada pelos personagens principais desta magnífica película. A preocupação da fala consiste num elemento linguístico muito importante para os N’avi (população habitante do planeta Pandora invadido pelos humanos maus). É o representante semântico do “eu me importo com você”.
Quantos de nós poderíamos a cada dia, durante a dura jornada, olhar para as pessoas a nossa volta e simplesmente mencionar “eu vejo você”. Isso se nós seguíssemos a filosofia de seres criados pela ficção, mas que tanto ratificam sua existência no mundo real. São aqueles aos quais ninguém dá importância, não há necessidade de sequer um “bom dia” porque não temos a obrigação de fazê-lo. A humanidade desumana tão fielmente representada pelo filme demonstra de forma dantesca que não consegue viver em consonância com a natureza, não sabe a arte do COM-VIVER, ou seja, viver com o outro, se importar com o outro e VER O OUTRO!
Seja na realidade virtual, na ficção ou na vida real há que valorizar a essência do homem e sua convivência pacífica dentro do ecossistema em que está inserido. Se isso não acontecer, todos, sem exceção, estamos fadados ao pior destino. A falta de amor ao próximo apontada nas mesmices da vida, nas peculiaridades dos gestos das pessoas, demonstra que, ao contrário dos N’avi, nós não vemos ninguém, simplesmente não nos importamos. É triste, mas é a pura realidade.
Certa vez eu, como ledora voraz que sou, li um conto chamado “Caridades Odiosas” da magnífica Clarice Linspector. Título nada sutil para a temática de compreensão textual. Nele, a autora encontra na rua um menino abandonado que lhe pede um doce. Ao mesmo tempo que quer satisfazer o desejo da pobre criança, ela fica envergonhada por ter realizado o ato tão publicamente. Sendo assim, se questiona acerca dos seus sentimentos totalmente contraditórios. O que seriam estas caridades a que somos obrigados a realizar que tornariam suas realizações odiosas? Por que temos vergonha de fazer o bem? Ou estamos tão acostumados a ignorar certas situações que quando elas acontecem, precisam ser ponderadas.
Também tomei conhecimento de que entre as tribos do norte da África do Sul, a saudação mais comum, equivalente ao nosso popular “olá”, é a expressão Sawa Bona. Literalmente significa, “Te vejo”. Se eu te vejo, você existe no plano da minha vida. Se eu não falo nada, é como se a morte no plano das idéias dilacerasse o coração.
Isso nos faz perceber que precisamos de ensinamentos curtos, simplórios, oriundos de filmes ou de tribos do outro lado do mundo para que possamos entender a importância de vivermos em harmonia com nosso habitat, assim como com nossas fraquezas, talvez em perfeita conexão com o meio ambiente. Compreender o outro, ser solidário não é difícil, todavia precisa de treino. Afinal uma pessoa é uma pessoa por causa de outra. É como se no “Eu Vejo Você”, nós fizéssemos o outro existir. Ninguém vive sozinho e nós precisamos nos dar conta disso.

Portanto, dentro deste espírito, Eu vejo vocês!

Um comentário:

  1. Parabéns pela belíssima produção!

    Concordo quando você diz:"Ninguém vive sozinho e nós precisamos nos dar conta disso."
    A humanidade necessita de ensinamentos que possibilite vivermos em harmania com nosso ambiente.Um abraço, Juliana Motta

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