terça-feira, 3 de abril de 2012

Jornalismo Educativo



A notícia em sala de aula...




Área devastada mostra a descaracterização do ecossistema



              
Impacto do Novo Código Florestal para os manguezais

Embora os manguezais sejam fundamentais para a vida marinha e bastante relevantes para a economia do país, a necessidade de preservação desse ecossistema só foi reconhecida em 1934, no Primeiro Congresso da Pesca. Desde então, foram feitas diversas leis e políticas para a sua proteção, como a Resolução 303 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) , de 2002, que definiu os manguezais como Áreas de Preservação Permanente (APPs). Mas a legislação não impediu que tivéssemos devastado cerca de 50 mil hectares de áreas de manguezais nos últimos anos, segundo dados atuais do Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento


E esse quadro pode se acelerar, segundo os ambientalistas, se aprovado o Novo Código Florestal. Ele propõe flexibilizações nas regulamentações do uso dessas áreas “intocáveis” e também na proteção das vegetações em leitos de rios que podem colocar esse ecossistema ainda mais em risco.


O documento proposto define que todas as APPs que foram ocupadas ilegalmente até 2008 com atividades exploratórias serão perdoadas, não havendo multa para quem descumpriu a lei — segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), até 2008 o valor das multas somava a quantia de mais de 2 bilhões de reais. Os infratores também não estão obrigados a realizar nenhum tipo de medida compensatória.

Em seu artigo 12, o documento também flexibiliza as APPs para fins da carcinicultura (criação de camarão) e produção de salinas, em uma cobertura vegetal de 10% dentro do bioma amazônico e 35% para os demais.



A licença ambiental para esse tipo de exploração será de 5 anos, renováveis, caso o empreendedor cumpra as exigências da legislação ambiental. Em evento organizado pela ONG SOS Mata Atlântica, a pesquisadora Yara Shaeffer-Novelli diz temer, no entanto, que o precedente jurídico estimule a prática de esgotar as áreas exploradas nos 5 anos estipulados para, em seguida, abandoná-las em busca de licenças em outras regiões, o que é permitido na nova lei. Ela estima que o resultado dessa concessão poderá gerar 190 mil hectares de manguezais degradados.

Ecossistema

Manguezais são ecossistemas peculiares localizados na região de encontro das águas doce e salgada (chamados de estuários), de transição entre o ambiente terrestre e o marinho, com presença de lama e água salobra. Sua vegetação possui adaptações para se fixarem no substrato lodoso e para sobreviver à salinidade da água.

Eles são extremamente importantes para a vida marinha, pois atuam como um filtro para o mar ao aprisionar os sedimentos, a matéria orgânica e até os poluentes provenientes dos rios. A vegetação no manguezal também protege a costa marítima da erosão, funcionando como uma cortina contra o vento. Além disso, a grande quantidade de matéria orgânica existente nesse ecossistema constitui a base da teia alimentar marinha, fornecendo nutrientes para a produção primária dos fitoplânctons. Por isso, os manguezais são chamados de berçário marinho para diversas espécies, como peixes e crustáceos. Entre as suas diversas funções, foi descoberto recentemente que os estuários também são peças fundamentais para o ciclo do carbono, por serem grandes reservas deste elemento e interferirem também no carbono atmosférico.

 Mangue ou manguezal?

É comum ver os termos “mangue” e “manguezal” serem utilizados como sinônimos, porém há uma diferença entre ambos que deve ser observada. Manguezal é o ecossistema, o que engloba os fatores bióticos (vegetação, fauna, microrganismos etc.) e abióticos (solo, águas etc). Já mangue é o termo utilizado para designar a vegetação característica dos manguezais, que são geralmente árvores com raízes aéreas e outras adaptações para viver neste ambiente.

Fonte econômica



A exploração dos manguezais não é algo recente. Desde a época da Monarquia, a Coroa portuguesa já extraía o tanino, substância encontrada nas cascas das árvores do manguezal para o curtimento de couros e outros tecidos.
Atualmente, pela grande biodiversidade, o manguezal ainda tem um enorme papel na sobrevivência das populações tradicionais que vivem em seu entorno, como caiçaras, ribeirinhos e praianos. Muitas famílias vivem da pesca artesanal e da comercialização de caranguejos coletados manualmente no mangue.

Por: Carolina Brandão, especialista em Biologia
Edição: Carolina Lopes

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