BRINCAR DE VIVER
CRISTIANE CARMINATE P. G. GADIOLI
Cedo me peguei em devaneios, a pensar momentos nostálgicos, saudades do que não volta mais... Tenho andado assim... melancólica, sentindo falta até do que eu ainda nem vi! Creio que nasci na época errada. Isso me vem à mente cada vez que abro um Facebook da vida ou converso de igual para igual com adolescentes. Quem são os ídolos deles? A quem eles veneram loucamente? Quem são seus heróis? Em quem eles acreditam?
Por conta disso sinto-me ultrapassada, velha, ranzinza e eu ainda nem cheguei à dita cuja da terceira idade (aliás, nomenclatura infeliz, diga-se de passagem). Será que tudo mudou e eu não estou me adaptando a estas mudanças rápidas e violentas demais? Há pouco tempo era eu a adolescente! Agora escrevo sobre adolescentes! Uau! Fugaz demais! Será que já nos perguntamos ou observamos o quanto o tempo, este devorador de almas, está passando frenético, correndo por nossas vidas e nós não nos demos conta de que ela se esvai como água por entre os dedos?
Trabalhamos demais, relaxamos de menos, realizamos mil tarefas ao mesmo tempo para dar o justo tempo de efetuar as atividades previstas para o dia seguinte. Estamos sempre querendo férias porque nosso descanso já não nos basta para pensar na vida. Tudo passa numa fração de segundos, quando vemos já é dezembro... Já! Outro dia mesmo era janeiro! Como assim? Tempo, tempo, tempo... mano velho! Rouba-nos todos os dias um pouco da jovialidade, da destreza, do afã, do presente...
Será que nossos “ídolos ainda são os mesmos como os dos nossos pais?” Nunca serão! Pelo menos principalmente agora nesta fase desenfreada de tecnologia, de simulacros de comunicação. Tudo passa muito dramaticamente para mim! É tão difícil amadurecer. Dói não ser mais uma garotinha e acreditar que os meus heróis e ídolos deveriam ser os dessa geração também. Para eles um herói é um jogador de futebol bem sucedido, é uma mulher fruta designada como “artista”, uma prostituta que virou escritora, os “guerreiros da nave mãe” do Reality Shows, são os meteoros surgidos da pecha embocada pela mídia. O bandido eleva-se ao estrelato quando por dias a fio suas “façanhas” são noticiadas. Onde estão os grandes heróis da humanidade?
Meus ídolos eram incrivelmente inocentes perto dos desta meninada. Adorava quando meu professor de História da 8ª série me falava da época da ditadura, de quando ele mesmo lutou em prol da democracia, da liberdade de expressão. Graças a ele e a muitos outros eu posso escrever o que penso neste jornal. Via os desenhos do Walt Disney no cinema, lia Monteiro Lobato. Agora querem crucificar o pobre escritor porque acreditam que suas obras têm conotação racista! Poupem-me! E as teorias de conspiração espalhadas por aí que versam que vários desenhos animados possuem mensagens subliminares? Hoje não se pode nem mais ser criança! Talvez seja por isso que os pimpolhos queiram virar adultos muito cedo. Nada serve para eles!!! Eu amava as histórias dos contos de Grimm, contudo alguém ainda vai achar drama nas pobres narrativas.
Estou com saudade mesmo! Saudades de um tempo que passava mais devagar, onde caminhávamos mais lentamente nesta estrada chamada vida. Onde podíamos ler o que quiséssemos sem que nenhum “especialista” pseudoentendedor de bulhufas nenhuma venha nos dizer que isto ou aquilo faz alusão preconceituosa. Onde possuíamos o direito fundamental de ir e vir sem ter que nos trancarmos em casa como bichos enquanto os verdadeiros bandidos estão soltos na rua.
Acho que tudo vai ficando chato, inclusive eu... E para que este artigo não se torne enfadonho, vou ficando por aqui com meu saudosismo, entretanto com a esperança de que tudo mude novamente. Quem sabe para melhor!
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