Veja
a seguir o artigo publicado pela Educadora e diretora pedagógica do
Instituto Paramitas,
Mary Grace Andrioli.
Nos últimos tempos, alguns palestrantes e articulistas que tenho
acompanhado costumam abordar o termo “nativos X imigrantes digitais”,
muitos deles inspirados em Prensky, autor do livro “Digital Natives,
Digital Immigrants”. De acordo com essa visão, a geração mais jovem
acaba demonstrando mais facilidade e interesse no uso das Tecnologias
de Informação e Comunicação (TIC), justamente pelo fato de ter nascido
neste mundo tecnológico e por ter desde cedo acesso a estes recursos.
De fato, é o que constatamos ao ver crianças bem pequenas
manuseando com facilidade desde o controle remoto da TV, até mesmo os
celulares, videogames e computadores. Quantos de nós já nos
surpreendemos com exemplos destes na família ou mesmo na escola?
Ainda assim, é um tanto perigoso acharmos que isso é suficiente
para que estas gerações avancem e consigam de fato aproveitar o
potencial das TIC de forma produtiva e é também um tanto preconceituoso
acharmos que pessoas mais velhas não são capazes de utilizar as TIC.
Generalizações são sempre perigosas. Há sim crianças que podem não
gostar tanto de tecnologia, bem como há “imigrantes digitais” que se
adequaram perfeitamente a este mundo das TIC.
Como educadores, precisamos pensar, independente de qualquer
classificação de gerações, de que forma podemos aproveitar o potencial
das TIC para melhoria da qualidade dos processos de aprendizagem,
desenvolvimento da autonomia dos alunos e, consequentemente,
aprendizagem ao longo da vida.
Estes aspectos não são tão simples assim… Não dependem apenas do
manuseio, interesse ou facilidade técnica para uso das TIC. Cada
educador precisa saber avaliar se os seus alunos – os chamados “nativos
digitais” – sabem ou ao menos possuem a intenção de utilizar as
tecnologias digitais para aprender algo, compartilhar ideias,
selecionar criticamente informações que encontram na Web ou mesmo
desenvolver trabalhos colaborativos. É nesse sentido que também
precisamos contribuir com a formação de nossos alunos.
Não basta apenas nos contentarmos em ter os alunos nas redes
sociais on-line. Afinal, estas redes sempre existiram e é natural que
eles “curtam” encontrar e interagir com conhecidos (e o pior…
desconhecidos também) no Facebook ou no Orkut. Porém, quantos destes
sabem navegar com segurança na internet?
Vejo educadores propondo atividades para que os alunos realizem no
Facebook e no Orkut, com o simples argumento de que “já que eles
gostam… então temos que usar”. Ora, se eles já gostam, essa não é uma
razão pedagógica para o uso das redes sociais. De fato é necessário
aproveitar o que eles gostam ou ao menos não ignorar as características
dos espaços em que manifestam interesse em atuar, mas a escola precisa,
para cumprir sua missão social, ir além do que os alunos “curtem”. Se
por acaso eles não “gostarem” de escrever, pensar, aprender… não
poderemos deixar de fazê-lo.
Aos professores, mesmo os que forem considerados “imigrantes
digitais”, resta a experiência de estarem há mais tempo neste mundo e
de conhecerem desafios que não são nada novos. A dificuldade em
trabalhar com pesquisa na escola já existia antes da era da internet e
hoje é facilitada pelas tecnologias digitais. Da mesma forma que
persiste o bullying, hoje temos desafios ainda maiores com o
cyberbullying. Por outro lado, há muitas novas formas de aprender e
compartilhar conhecimento em rede com a disponibilidade de recursos que
temos hoje on-line. Esse processo pode ser ainda mais enriquecedor se
combinado com recursos tão bem conhecidos pelos professores e que
existem há muito tempo na escola, como os livros impressos.
É preciso unir o útil ao agradável. Unir talvez os “imigrantes” com
os “nativos” e pensar de que modo esta parceria pode trazer benefícios
para a educação. Se os “nativos digitais” já gostam de utilizar as
TIC, interagir on-line e demonstram também facilidade técnica, a grande
contribuição do professor pode ser provocá-los para que usem toda essa
potencialidade para aprender ao longo da vida e para que sejamos
produtores de conhecimento e não meros “curtidores” de serviços e novas
tecnologias.
Por Mary Grace Andrioli
Mary Grace Pereira Andrioli é mestre em Educação pela USP,
pós-graduada em Design Instrucional para Educação on-line (UFJF) e
pedagoga (USP). Co-fundadora do Instituto Paramitas, professora
convidada na Universidade Presbiteriana Mackenzie, consultora do MEC e
diretora pedagógica no Instituto Paramitas.
02/03/2012